A Dor Muscular do Dia Seguinte: Amiga ou Inimiga? Saiba Quando se Preocupar

Qualquer pessoa que já começou uma nova rotina de exercícios ou fez um treino mais intenso conhece bem essa sensação: você acorda um ou dois dias depois com os músculos doloridos, sentindo dificuldade para sentar, levantar os braços ou descer escadas. Essa é a famosa Dor Muscular de Início Tardio (DMIT), ou, em inglês, DOMS (Delayed Onset Muscle Soreness).

Por muito tempo, essa dor foi vista como um troféu, um sinal inequívoco de um treino bem-sucedido. A mentalidade do “sem dor, sem ganho” (no pain, no gain) reinou, levando muitos a acreditarem que, se não ficassem doloridos, o treino não tinha valido a pena.

Mas será que essa dor é realmente nossa amiga, um indicador de progresso? Ou ela pode ser uma inimiga, um sinal de que passamos do ponto? A verdade, como quase sempre, está no equilíbrio.

O Que Causa a Dor do Dia Seguinte?

Primeiro, vamos derrubar um mito antigo: a dor muscular tardia não é causada pelo acúmulo de ácido lático. O ácido lático é metabolizado pelo corpo rapidamente, minutos ou horas após o exercício, e não é responsável pela dor que surge 24 a 48 horas depois.

A verdadeira causa da DMIT são as microlesões ou microrrupturas nas fibras musculares. Quando você submete seus músculos a um estresse novo ou mais intenso do que ele está acostumado (especialmente em movimentos excêntricos, como a fase de descida de um agachamento ou de uma rosca bíceps), você cria pequenas lesões nessas fibras.

O corpo, em sua infinita sabedoria, responde a essas microlesões com um processo inflamatório. É essa inflamação, que faz parte do processo de reparo e reconstrução muscular, que causa a dor e a sensibilidade que sentimos.

Quando a Dor é Sua AMIGA? (Um Bom Sinal)

Na maioria das vezes, uma dor muscular leve a moderada é, sim, um bom sinal. Ela indica que:

  1. Você Desafiou Seus Músculos: A dor mostra que você saiu da sua zona de conforto e deu ao seu corpo um estímulo forte o suficiente para provocar uma adaptação.

  2. O Processo de Reconstrução Começou: A dor é um efeito colateral do processo que fará seus músculos se recuperarem e crescerem mais fortes, mais resistentes e, eventualmente, maiores (hipertrofia). É o famoso “quebrar para construir mais forte”.

  3. Você Está Progredindo: Sentir dor ao mudar um treino, aumentar a carga ou experimentar um novo exercício é perfeitamente normal e faz parte da jornada de evolução física.

 

Características da dor “amiga”:

  • É uma dor muscular generalizada, não em uma articulação.

  • É sentida em ambos os lados do corpo (ex: as duas coxas, os dois braços).

  • Atinge seu pico entre 24 e 48 horas após o treino.

  • Melhora gradualmente com o passar dos dias.

  • Não te impede de realizar suas atividades diárias, embora com algum desconforto.

Quando a Dor é Sua INIMIGA? (Um Sinal de Alerta)

Nem toda dor pós-treino é positiva. É crucial saber diferenciar o desconforto normal da dor que sinaliza um problema. Fique atento se a dor for:

  1. Aguda, Pontual e Súbita: Se você sentiu uma dor aguda, como uma “fisgada” ou “rasgo”, durante o exercício, isso não é DMIT. Pode ser uma distensão, um estiramento ou uma ruptura muscular ou de ligamento.

  2. Localizada em Articulações: A DMIT é uma dor nos “músculos”. Dores nos joelhos, cotovelos, ombros ou tornozelos são um sinal de alerta para lesões articulares.

  3. Extremamente Intensa e Incapacitante: Se a dor é tão forte que te impede de mover um membro, causa um inchaço severo ou altera a cor da sua urina (deixando-a escura, cor de chá ou Coca-Cola), procure um médico imediatamente. Isso pode ser um sinal de rabdomiólise, uma condição grave e rara em que o músculo danificado libera proteínas na corrente sanguínea, podendo levar à insuficiência renal.

  4. Persistente: A dor normal da DMIT deve diminuir significativamente após 72 horas. Se a dor continua forte por mais de 3 ou 4 dias, ou se piora em vez de melhorar, pode ser um sinal de que você exagerou na dose (overtraining) ou de uma lesão mais séria.

  5. Acompanhada de Formigamento ou Dormência: Isso pode indicar a compressão de um nervo e deve ser avaliado por um profissional.

Conclusão: A dor muscular do dia seguinte pode ser uma grande aliada no seu progresso, um feedback do seu corpo dizendo “Entendi o recado, vou ficar mais forte”. No entanto, ela não é um pré-requisito obrigatório para um bom treino. Conforme seu corpo se adapta, você sentirá menos dor, mesmo continuando a progredir.

Aprenda a ouvir seu corpo. Diferencie o desconforto produtivo da dor que é um pedido de socorro. Respeite seus limites, valorize o descanso como parte essencial do treino e lembre-se: o objetivo é construir um corpo mais forte e saudável, não um corpo constantemente quebrado.

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