A cena era sempre a mesma. Um dia estressante no trabalho, uma preocupação com o futuro, uma sensação de tédio ou solidão. De repente, eu me via em frente à geladeira ou ao armário, procurando algo. Qualquer coisa. Um doce, um salgadinho, um pedaço de pão. Eu não estava com fome física, mas com uma fome desesperada de preencher um vazio, de silenciar o barulho na minha cabeça.
Eu comia rápido, sem nem sentir o gosto, em um transe. E, logo depois, a culpa e a vergonha chegavam, pesadas, me fazendo sentir pior do que antes. A ansiedade alimentar era a minha sombra, ditando minhas escolhas e me mantendo preso em um ciclo de impulso, alívio momentâneo e arrependimento profundo.
Eu tentei de tudo: proibir os “alimentos gatilho” (o que só aumentava meu desejo por eles), fazer dietas restritivas (o que me deixava ainda mais ansioso). Nada funcionava, porque o problema não estava na comida, mas na minha mente.
A grande virada aconteceu quando eu percebi que a ansiedade agia no piloto automático. Eu não decidia comer; eu simplesmente era levado pelo impulso. A estratégia que mudou tudo para mim foi criar um “quebra-molas” mental, um pequeno ritual para interromper esse piloto automático e me dar o poder da escolha de volta.
Eu o chamo de Ritual da Pausa e da Pergunta. E foi ele que, finalmente, me ajudou a controlar a minha ansiedade alimentar.
A “Receita” Contra a Ansiedade: O Ritual da Pausa e da Pergunta
Esta não é uma receita de comida, mas uma receita para a mente. É uma ferramenta de mindfulness para ser usada no momento exato em que o impulso de comer por ansiedade aparece.
Dica do Mestre: No início, pode parecer difícil e você pode “falhar” várias vezes. Não desista. O objetivo não é a perfeição, mas a prática. Cada vez que você consegue fazer a pausa, mesmo que acabe comendo depois, você está fortalecendo o “músculo” da consciência.
Os 3 Passos do Ritual
Passo 1: A Pausa (O Quebra-Molas Mental)
Ação: No exato segundo em que você se perceber indo em direção à cozinha ou abrindo um aplicativo de delivery por impulso, PARE. Fisicamente. Fique parado por 10 segundos. Respire fundo três vezes, de forma lenta e profunda.
Por quê? A ansiedade prospera na velocidade e na falta de consciência. A pausa física força uma interrupção no padrão automático. A respiração profunda ativa o sistema nervoso parassimpático, que tem um efeito calmante imediato, diminuindo a intensidade do impulso.
Passo 2: A Pergunta (A Tomada de Consciência)
Ação: Depois de respirar, faça a si mesmo, com gentileza e curiosidade, uma pergunta chave: “O que eu estou sentindo de verdade neste momento?”.
Por quê? Este é o coração da estratégia. Você desvia o foco da comida e o direciona para a emoção real que está por trás do desejo. A resposta pode ser: “Estou estressado com um prazo”, “Estou me sentindo sozinho”, “Estou entediado”, “Estou com medo de uma conversa difícil”. Nomear o sentimento tira o poder que ele tem sobre você.
Passo 3: A Escolha Consciente (O Poder de Volta)
Ação: Agora que você identificou o sentimento real, pergunte-se: “O que eu realmente preciso para lidar com esse sentimento agora? A comida vai resolver isso de forma duradoura?”.
Por quê? Este passo te devolve o poder. Você percebe que comer o chocolate pode te dar um alívio de 30 segundos, mas não vai resolver o estresse do trabalho. Talvez o que você realmente precise seja:
Sair para uma caminhada de 5 minutos.
Ouvir uma música que você ama.
Ligar para um amigo.
Escrever sobre o que está sentindo.
Tomar um copo de água ou um chá quente.
Às vezes, mesmo depois de tudo isso, você ainda pode escolher comer. E tudo bem. Mas agora, será uma escolha, e não um impulso cego. E essa pequena diferença é o que, com o tempo, te liberta do ciclo da ansiedade alimentar.
Você também luta contra a ansiedade alimentar?
Se essa jornada e essa estratégia ressoaram com você, saiba que você não está sozinho e que é possível encontrar um caminho para a paz.
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Conte pra gente nos comentários: qual é o seu maior gatilho para a ansiedade alimentar e qual pequena estratégia você poderia tentar para criar uma pausa?
