Hoje, o chocolate é um prazer acessível, uma guloseima encontrada em qualquer supermercado ou loja de conveniência. Mas em um passado não muito distante, o ingrediente base do chocolate, o cacau, era considerado um presente dos deuses, um símbolo de poder e riqueza, e era literalmente mais valioso do que o ouro para as grandes civilizações da Mesoamérica.
A história do chocolate não começa com barras doces e cremosas na Europa, mas sim com as sementes de cacau sendo usadas como dinheiro e como uma bebida sagrada e amarga pelos Maias e Astecas.
O “Alimento dos Deuses”
A civilização Maia, que floresceu no que hoje é o sul do México e a América Central, foi uma das primeiras a cultivar o cacaueiro, por volta de 1500 a.C. Eles chamavam o cacau de “kakaw” e o consideravam um presente divino.
No entanto, foram os Astecas, que dominaram a região séculos depois, que elevaram o status das sementes de cacau a um nível sem precedentes. Para os Astecas, as sementes de cacau não eram apenas um alimento; eram a sua principal forma de moeda.
Cacau Como Dinheiro
No Império Asteca, não existiam moedas de metal. Todo o sistema econômico e de tributos era baseado em bens, e as sementes de cacau eram a unidade de troca mais importante e padronizada. Elas eram usadas para comprar tudo, desde alimentos básicos até bens de luxo e até mesmo para pagar impostos.
Para se ter uma ideia do seu valor, os registros históricos mostram tabelas de preços como estas:
1 peru: 100 sementes de cacau
1 abacate: 3 sementes de cacau
1 tomate grande: 1 semente de cacau
1 coelho: 30 sementes de cacau
As sementes eram tão valiosas que a falsificação era um problema sério. Alguns comerciantes desonestos esvaziavam as sementes de cacau e as enchiam com argila ou terra para enganar os compradores.
O ouro e a prata, que os conquistadores espanhóis tanto cobiçavam, tinham valor ornamental e ritual para os Astecas, mas no dia a dia, no mercado, eram as sementes de cacau que detinham o verdadeiro poder de compra.
Xocolātl: A Bebida da Elite

O consumo do cacau também era muito diferente do que conhecemos hoje. Ele não era comido em forma sólida, mas sim bebido. Os Astecas preparavam uma bebida chamada “xocolātl” (que significa “água amarga”), que deu origem à palavra “chocolate”.
Esta não era uma bebida doce e reconfortante. Era uma poção amarga, espumosa e muitas vezes picante, reservada para a elite: nobres, guerreiros e sacerdotes.
A receita do xocolātl consistia em sementes de cacau torradas e moídas, misturadas com água, pimentas, especiarias e, às vezes, farinha de milho para engrossar. A mistura era despejada de uma altura para outra entre dois recipientes para criar uma espuma espessa e cobiçada na superfície. O açúcar era desconhecido para eles, então a doçura não fazia parte da experiência.
A bebida era valorizada por suas propriedades estimulantes e energéticas, sendo consumida antes de batalhas e durante cerimônias religiosas importantes. O imperador Montezuma II, segundo relatos, bebia dezenas de taças de xocolātl por dia para aumentar seu vigor.
A Chegada dos Europeus e a Transformação
Quando os espanhóis, liderados por Hernán Cortés, chegaram ao Império Asteca no início do século 16, eles não entenderam imediatamente o valor daquelas “amêndoas” marrons. Eles estavam em busca de ouro.
No entanto, eles rapidamente perceberam que o cacau era a chave para a economia local e o levaram para a Europa. Foi na Espanha que o chocolate passou por sua maior transformação: o amargor e a pimenta foram substituídos por açúcar e canela, e a bebida fria se tornou uma bebida quente, conquistando as cortes europeias.
Ainda assim, por séculos, o chocolate permaneceu um artigo de luxo, acessível apenas aos muito ricos. Foi somente com a Revolução Industrial, no século 19, que a produção em massa tornou o chocolate sólido e as barras de chocolate uma guloseima acessível para todos, completando a longa jornada do “dinheiro dos deuses” para o doce que conhecemos e amamos hoje.
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