O Rum Era a Bebida Oficial dos Piratas e Chegou a Ser Usado Como Forma de Pagamento

A imagem é indelével em nossa cultura: um pirata com uma perna de pau, um papagaio no ombro e, na mão, uma garrafa de rum. De “A Ilha do Tesouro” a “Piratas do Caribe”, a associação entre os corsários e este destilado de cana-de-açúcar é absoluta. Mas, ao contrário do mito do espinafre do Popeye, esta história é, em grande parte, verdadeira.

O rum não era apenas a bebida preferida dos piratas; era a moeda corrente, o combustível social e uma parte essencial da vida no mar durante a Era de Ouro da Pirataria (aproximadamente de 1650 a 1730). Sua história está intrinsecamente ligada à colonização, ao comércio de açúcar e à vida brutal a bordo de um navio.

O Nascimento do Rum: O “Lixo” da Indústria do Açúcar

A história do rum começa com a expansão das plantações de cana-de-açúcar nas ilhas do Caribe no século XVII. O processo de refino do açúcar gerava um subproduto espesso, escuro e pegajoso: o melaço. Inicialmente, o melaço era considerado um resíduo industrial, um lixo a ser descartado.

No entanto, logo se descobriu que esse melaço, rico em açúcar residual, podia ser fermentado e destilado. O resultado era uma bebida alcoólica forte, barata e de sabor intenso e adocicado. Os primeiros nomes para essa bebida refletiam sua natureza bruta: era chamada de “kill-devil” (mata-diabo) ou “rumbullion” (uma palavra antiga para “grande tumulto”). Com o tempo, o nome foi encurtado para, simplesmente, rum.

A Bebida Perfeita para o Mar

A vida no mar era dura, e a água potável era um problema sério. Armazenada em barris de madeira por meses, a água rapidamente se tornava um lodo verde, contaminada por algas e bactérias. Cerveja e vinho, as bebidas preferidas na Europa, não resistiam bem às longas e quentes viagens marítimas.

O rum, no entanto, era a solução perfeita:

  • Durabilidade: Por ser um destilado de alto teor alcoólico, o rum não estragava. Pelo contrário, muitas vezes melhorava com o tempo nos barris.

  • Poder de “Purificação”: Adicionar rum à água contaminada ajudava a matar alguns dos germes e, mais importante, mascarava o sabor horrível, tornando-a palatável.

  • Disponibilidade e Preço: O rum era produzido em abundância e a baixo custo exatamente onde os piratas e marinheiros operavam: no Caribe.

O Rum na Marinha Real e Como Forma de Pagamento

 

O valor do rum foi rapidamente reconhecido pelas marinhas oficiais. Em 1655, a Marinha Real Britânica capturou a Jamaica da Espanha e, com ela, o acesso a uma fonte constante de rum. A Marinha substituiu a ração diária de cerveja francesa de seus marinheiros por uma ração diária de rum, conhecida como “tot”.

Essa ração era tão importante para o moral da tripulação que se tornou uma parte essencial do pagamento. Os marinheiros contavam com sua dose diária. Para os piratas, que não tinham um sistema de pagamento formal, o rum era ainda mais valioso. Ele era frequentemente usado como moeda para recrutar novos membros, para celebrar a captura de um navio e para dividir os espólios. Uma parte do butim era frequentemente distribuída em barris de rum.

O Grogue e o Combate ao Escorbuto

A ração diária de rum puro na Marinha levava a problemas de disciplina e embriaguez. Em 1740, o Almirante Edward Vernon, apelidado de “Old Grog” por causa de sua capa de tecido grosso (grogram), ordenou que o rum fosse diluído em água. A mistura, batizada de grogue em sua homenagem, era servida duas vezes ao dia.

Mais tarde, para combater o escorbuto (uma doença mortal causada pela deficiência de Vitamina C), suco de limão ou lima foi adicionado à mistura de rum e água. Nascia ali, por necessidade médica, um dos primeiros coquetéis do mundo, uma mistura que mantinha os marinheiros hidratados, relativamente sóbrios e livres do escorbuto.

A história do rum é, portanto, a história da própria vida no mar. Era uma fuga da dureza do dia a dia, um remédio improvisado, uma moeda de troca e o centro da vida social a bordo. Então, da próxima vez que você vir um pirata com uma garrafa na mão, saiba que aquilo não é apenas um clichê de Hollywood, mas um retrato fiel da bebida que alimentou a era mais infame dos sete mares.

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