Nenhuma bebida na história é cercada por tanto mistério, mito e pânico moral quanto o absinto. Conhecido por sua cor verde esmeralda vibrante e seu ritual de preparo hipnótico, o absinto foi o combustível criativo da Belle Époque parisiense no final do século XIX, a bebida preferida de artistas e escritores como Van Gogh, Picasso, Oscar Wilde e Ernest Hemingway.
No entanto, sua popularidade veio acompanhada de uma reputação sombria. O absinto foi acusado de ser uma droga perigosa, uma substância que não apenas embriagava, but causava alucinações, comportamento violento e loucura. O suposto efeito psicoativo da bebida ganhou um apelido poético e sinistro: a “Fada Verde” (La Fée Verte), uma musa etérea que sussurrava inspiração no ouvido dos artistas, mas que também podia levá-los à perdição.
Essa reputação culminou em uma onda de proibições em toda a Europa e nos Estados Unidos no início do século XX, tornando o absinto uma lenda proibida por quase 100 anos. Mas a Fada Verde era real? O absinto realmente causava alucinações? A ciência moderna tem uma resposta definitiva: não.
O Bode Expiatório: A Tujona
A culpa pela suposta psicoatividade do absinto foi historicamente atribuída a um único composto químico: a tujona. A tujona é uma molécula encontrada em várias plantas, mas está presente em maiores concentrações na principal erva usada para aromatizar o absinto, a Artemisia absinthium, também conhecida como losna ou absinto.
A tujona, em doses extremamente altas e purificadas, pode de fato ser tóxica e causar convulsões. No século XIX, com a ciência ainda incipiente, assumiu-se que a presença dessa molécula na bebida era a causa dos efeitos alucinógenos relatados. A Fada Verde, portanto, era o nome poético para os efeitos da tujona no cérebro.
A Verdade Chocante: O Verdadeiro Culpado Era o Álcool (e a Fraude)
Quando cientistas modernos, após o fim da proibição, analisaram garrafas de absinto pré-banimento e recriaram as receitas originais, eles fizeram duas descobertas cruciais:
Níveis de Tujona Eram Inofensivos: A quantidade de tujona presente no absinto, mesmo nas receitas mais antigas, era muito baixa para causar qualquer efeito psicoativo. Uma pessoa morreria de intoxicação alcoólica muito antes de consumir tujona suficiente para sentir qualquer coisa além dos efeitos do próprio álcool.
O Verdadeiro Culpado: O verdadeiro responsável pela “loucura” associada ao absinto era muito mais simples e brutal:
Teor Alcoólico Extremo: O absinto era uma bebida incrivelmente forte, geralmente engarrafada com um teor alcoólico entre 60% e 75%. Para comparação, a maioria dos destilados como uísque e vodca tem 40%. As pessoas estavam, simplesmente, ficando extremamente bêbadas, muito rápido.
Absinto de Baixa Qualidade e Fraudes: Com a popularidade da bebida, surgiram inúmeras versões baratas e falsificadas. Esses produtores inescrupulosos usavam álcool industrial de péssima qualidade e adicionavam compostos tóxicos, como sulfato de cobre, para imitar a cor verde vibrante do absinto de verdade. Esses venenos, sim, podiam causar danos neurológicos, cegueira e loucura.

O pânico moral em torno do absinto também foi alimentado pela indústria do vinho, que via a popularidade da “Fada Verde” como uma ameaça econômica, e por movimentos de temperança que usaram a bebida como um bode expiatório para lutar contra o alcoolismo em geral.
O Legado da Fada Verde
Hoje, o absinto é legalizado na maioria dos países, com limites estritos para a quantidade de tujona permitida, garantindo sua segurança. A Fada Verde foi desmascarada. Ela não era uma musa alucinógena, mas sim o resultado de uma combinação de alcoolismo severo, envenenamento por produtos de baixa qualidade e uma campanha de desinformação bem-sucedida.
Ainda assim, o mito persiste. O ritual de derreter o açúcar sobre a bebida com água gelada continua a encantar, e a lenda da Fada Verde ainda confere ao absinto uma aura de perigo e criatividade que nenhuma outra bebida possui. É um lembrete poderoso de como a ciência, a cultura e o medo podem moldar a história de um simples copo.
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