É um dos fenômenos mais curiosos e intrigantes da aviação comercial. Pessoas que, em terra firme, raramente ou nunca bebem suco de tomate, entram em um avião e, assim que o carrinho de bebidas passa, pedem um copo gelado, muitas vezes temperado com sal e pimenta. Companhias aéreas como a Lufthansa relatam servir milhões de litros de suco de tomate por ano, uma quantidade que rivaliza com a da cerveja.
Mas por que isso acontece? Seria apenas um hábito coletivo inexplicável? A resposta é não. A ciência tem uma explicação fascinante, e ela envolve a forma como o ambiente da cabine de um avião, a 30.000 pés de altitude, altera drasticamente a nossa percepção de sabor e cheiro.
O Ambiente da Cabine: Uma Agressão aos Sentidos
A cabine de um avião é um ambiente hostil para o nosso paladar. Dois fatores principais são os culpados:
Baixa Pressão Atmosférica: A pressão dentro da cabine é mantida em um nível equivalente a estar no topo de uma montanha de cerca de 2.400 metros (8.000 pés). Essa baixa pressão faz com que os fluidos do nosso corpo, incluindo as mucosas nasais, se expandam ligeiramente, o que amortece a nossa capacidade de cheirar.
Ar Extremamente Seco: A umidade do ar na cabine é baixíssima, muitas vezes inferior à de um deserto. Isso resseca as membranas do nariz e da boca, reduzindo ainda mais a eficácia dos nossos receptores de cheiro e sabor.
Como cerca de 80% do que percebemos como “sabor” é, na verdade, derivado do nosso olfato, essa combinação de baixa pressão e ar seco tem um efeito devastador: nossa percepção de sabores doces e salgados pode diminuir em até 30%. É por isso que a comida de avião muitas vezes parece sem graça e as companhias aéreas precisam supersaturá-la de sal e açúcar para que tenha algum gosto.
O Superpoder do Suco de Tomate: O Quinto Gosto

É aqui que o suco de tomate entra como um super-herói. Enquanto os sabores doce e salgado são suprimidos, um outro gosto fundamental permanece praticamente inalterado pela altitude: o umami.
O umami é o quinto gosto básico, frequentemente descrito como “saboroso”, “carnudo” ou “caldo”. É o sabor que encontramos em alimentos como cogumelos, queijo parmesão, carnes curadas e, crucialmente, em tomates maduros.
Um estudo conduzido pelo Instituto Fraunhofer de Física de Construção, na Alemanha, simulou as condições de uma cabine de avião em um laboratório e confirmou exatamente isso. Os participantes classificaram o suco de tomate como muito mais saboroso e agradável sob a baixa pressão do que em condições normais. Em terra, muitos o descreviam como “terroso” ou “mofado”. No “ar”, eles o descreviam como “frutado”, “doce” e com um sabor agradável.
Conclusão: Em um ambiente onde nossa capacidade de sentir o doce e o salgado está comprometida, nosso cérebro busca instintivamente por sabores que ainda consegue perceber com clareza. O suco de tomate, com seu perfil rico em umami, se destaca no paladar “amortecido” da cabine. Ele simplesmente tem um gosto melhor, mais rico e mais satisfatório no ar do que em terra.
Portanto, da próxima vez que você estiver em um voo e sentir uma vontade súbita e inexplicável de pedir um suco de tomate, saiba que não é uma coincidência. É a sua biologia se adaptando de forma inteligente para encontrar prazer e sabor nas condições mais adversas.
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